quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Próxima parada: Castro

No dia 17 de março, quarta-feira, estarei na cidade de Castro, no Paraná, fazendo palestra e oficina sobre o poeta Paulo Leminski, tema e personagem do meu livro “O bandido que sabia latim”. Fui convidado a participar do 306º aniversário da cidade – que conheci na minha infância (veja texto abaixo) – oferecendo às professoras da rede pública de ensino (e pessoas sensíveis, em geral), informações necessárias sobre o poeta Paulo Leminski.
À noite do mesmo dia, 17, acontece o lançamento simultâneo de todos os meus livros (5), incluindo a biografia de Torquato Neto, outro poeta reconhecidamente maldito (no bom sentido, é claro!). Vai ser no restaurante Morro do Cristo, onde será servido um típico jantar tropeiro e levantado um brinde em homenagem a Castro, cidade que suscitou essa mini-crônica escrita dias atrás:



EU VOU!

Minhas lembranças de Castro – como aquarelas esmaecidas – são tão remotas quanto a minha infância. Elas foram proporcionadas por duas ou três viagens de trem de Curitiba para Jaguariaiva – saindo no final da tarde da capital e chegando nove horas depois ao destino. Estou falando da década de 1950. Era uma aventura nos vagões da RVPSC.
A parada intermediária, em Castro, era a principal atração da viagem, marcada pelo cenário magnífico e esplendoroso dos Campos Gerais. Através da janela do trem, de maneira lenta e preguiçosa, se descortinava o mais belo de todos os nossos ícones, a araucária.
Depois, adolescente, fiquei conhecendo os prodígios da produção batava de laticínios na região, desenvolvida por uma colonização ordeira, produtiva e refinada que nos chegava à mesa, em Curitiba, como um orgulho do Paraná. (Minha mãe era freguesa semanal do entreposto de vendas da Batavo, na Rua Saldanha Marinho)
Certa vez, aos 18 anos, abstraído em pensamentos na janela de um ônibus, em Curitiba, fui surpreendido pela voz do passageiro ao lado, um senhor de cabelos brancos e compridos que me interpelou carinhosamente:
- Pessoa tão jovem não deveria ter pensamentos tão profundos.
Era o maestro Bento Mossurunga, meu vizinho no Jardim das Américas, a quem, depois de ter sido apresentado nesta circunstância, pude render tributo como uma das personalidades mais desenvolvidas da nossa cultura.
Portanto, voltar agora para comemorar os 306 anos de Castro significa ganhar rara oportunidade de rever a minha história e o povo do meu Paraná. De me emocionar novamente com a paisagem da minha infância, incluindo os cânions de tirar o fôlego e o verde, o verde mais verde que existe... Sim, eu vou!


Toninho Vaz, de Santa Teresa

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Deu na Rolling Stone (nas bancas)

Uma casa engraçada


Zelador da história – Toninho Vaz, o autor do livro sobre a lendária residência carioca.

Livro resgata a história do Solar da Fossa, sede não oficial da arte brasileira. Por Anna Virginia Balloussier

Se já existisse Google Maps nos anos 60, a localização do Solar da Fossa bem que podia cair no número zero da Rua dos Bobos. Como na música de Vinicius de Moraes, era, de fato, uma casa muito engraçada aquela onde coexistiram mais artistas por metro quadrado do que emo em liquidação da chapinha de cabelo. O endereço de verdade ficava na Rua Lauro Muller, no.116, em Botafogo, no terreno que hoje abriga o Rio Sul, primogênito dos shoppings cariocas. Por lá iam e vinham Paulo Coelho, Gal Costa, Paulinho da Viola, Tim Maia e tantos – praticamente todo mundo que apitou sua arte naqueles primeiros e chumbados anos de ditadura. Também havia alguns remanescentes da primeira geração de inquilinos, como senhorinhas e dois travestis que mantinham salão de cabeleireiro na entrada.
Amigo do poeta Paulo Leminski, outro a manter um cantinho na construção de estilo colonial, o jornalista Toninho Vaz mapeou no livro Solar da Fossa, a República dos Magros a historia desses moradores, fixos ou itinerantes, dos 85 apartamentos – de quitinete a dois quartos com banheiro coletivos para alguns – da Pensão Santa Teresinha. Por um tempo, o Solar, levantado no século 18 para ser fazenda, funcionou como manicômio para mulheres. Não que a versão sessentista estivesse tão distante desse passado eclético. Espécie de feudo lisérgico, o espaço era “símbolo da loucura das drogas, com muita maconha, ácido e bebida", segundo Vaz.
Os atores Claudio Marzo e Betty Faria se casaram no pátio. Entre as paredes do Solar da Fossa, Caetano Veloso viajou nas espaçonaves e guerrilhas de “Alegria, Alegria”. E, claro, tinha os amigos. Em trecho, Jards Macalé conta sobre a noite em que desvirginou “uma moçoila na cama do Rogério Duarte”, designer das capas de disco da tropicália.
Para o diretor de TV, Roberto Talma, a lei do Solar da Fossa era clara: “Se você não tinha algum conhecimento de arte, um pouco de filosofia ou alguma consistência política, não comia ninguém”. Cabe ao diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, parte da última leva de residentes , em 1970, desmanchar essa atmosfera de república universitária: “Não era ambiente de bagunça. Não lembro de droga pesada, fora fumo e LSD” .
O Solar foi chamado de “ilha da felicidade” num período tão ruim da vida política brasileira. O autor, Toninho Vaz, esclarece que o Solar existiu de 1964 a 1971, quando as portas foram definitivamente lacradas.
* * *

“Nos difíceis dias da ditadura, boa parte das mentes criativas estavam no Solar da Fossa.”

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Memória analógica IV

Nos três anos em que morei em Nova York, de 1996 a 1998, algumas vezes fui privilegiado ao me aproximar dos ambientes de boa música (saravá, Roberto Muggiati) e de personagens talentosos do show bussiness americano. Mas, nem sempre foram encontros registrados por instrumentos analógicos fotográficos (antes da era digital) como aconteceu na noite em que conheci o saxofonista Lou Marini, integrante original da Blues Brother’s Band – ao lado de Dan Aycroyd e John Beluchi. Lou também era convidado eventual para engrossar o caldo em apresentações de grupos como Blood, Sweat and Tears ou Frank Zappa, com quem tocou em 1977 no álbum Zappa in New York.
Fui apresentado a Lou num bar na rua 58, west, 1997, quando comemorava-se com uma jam (sensacional) o aniversário de um pianista (esqueci o nome), batendo na casa dos 6 ponto 6. Chovia muito lá fora e isso parecia contribuir para o bom clima dentro do bar – motivado pelo aconchego e, de certa forma, pela segurança. Foi mesmo uma carraspana generalizada.

Mesmo não sendo fanático de carteirinha por blues (como o Carlão e o Frejat, que sabem tudo), eu guardava nítido na memória a entrada em cena de Lou no filme original d’Os irmãos cara-de-pau: ele era o chapeiro da lanchonete de Aretha Franklin no momento em que os brothers aparecem para convencê-la a participar do tal show beneficente – tema central do filme. Os dois dispensam os aventais e se incorporam a banda. O resto a gente já sabe: um espetacular show de Ray Charles, Cab Calloway, James Brown e um fabuloso elenco de atores e músicos.

(Merece referência especial o autor da foto: meu amigo Stu Deutsch, natural do Wisconsin e ligado ao cinema como técnico de captação de som ambiente em filmes de Spike Lee, Babenco, Tizuka Yamazaki, José Joffily e Bruno Barreto. Foi ele quem me apresentou ao Lou.).

Toninho Vaz