À noite do mesmo dia, 17, acontece o lançamento simultâneo de todos os meus livros (5), incluindo a biografia de Torquato Neto, outro poeta reconhecidamente maldito (no bom sentido, é claro!). Vai ser no restaurante Morro do Cristo, onde será servido um típico jantar tropeiro e levantado um brinde em homenagem a Castro, cidade que suscitou essa mini-crônica escrita dias atrás:

EU VOU!
Minhas lembranças de Castro – como aquarelas esmaecidas – são tão remotas quanto a minha infância. Elas foram proporcionadas por duas ou três viagens de trem de Curitiba para Jaguariaiva – saindo no final da tarde da capital e chegando nove horas depois ao destino. Estou falando da década de 1950. Era uma aventura nos vagões da RVPSC.
A parada intermediária, em Castro, era a principal atração da viagem, marcada pelo cenário magnífico e esplendoroso dos Campos Gerais. Através da janela do trem, de maneira lenta e preguiçosa, se descortinava o mais belo de todos os nossos ícones, a araucária.
Depois, adolescente, fiquei conhecendo os prodígios da produção batava de laticínios na região, desenvolvida por uma colonização ordeira, produtiva e refinada que nos chegava à mesa, em Curitiba, como um orgulho do Paraná. (Minha mãe era freguesa semanal do entreposto de vendas da Batavo, na Rua Saldanha Marinho)
Certa vez, aos 18 anos, abstraído em pensamentos na janela de um ônibus, em Curitiba, fui surpreendido pela voz do passageiro ao lado, um senhor de cabelos brancos e compridos que me interpelou carinhosamente:
- Pessoa tão jovem não deveria ter pensamentos tão profundos.
Era o maestro Bento Mossurunga, meu vizinho no Jardim das Américas, a quem, depois de ter sido apresentado nesta circunstância, pude render tributo como uma das personalidades mais desenvolvidas da nossa cultura.
Portanto, voltar agora para comemorar os 306 anos de Castro significa ganhar rara oportunidade de rever a minha história e o povo do meu Paraná. De me emocionar novamente com a paisagem da minha infância, incluindo os cânions de tirar o fôlego e o verde, o verde mais verde que existe... Sim, eu vou!
Toninho Vaz, de Santa Teresa