Zelador da história – Toninho Vaz, o autor do livro sobre a lendária residência carioca.
Livro resgata a história do Solar da Fossa, sede não oficial da arte brasileira. Por Anna Virginia Balloussier
Se já existisse Google Maps nos anos 60, a localização do Solar da Fossa bem que podia cair no número zero da Rua dos Bobos. Como na música de Vinicius de Moraes, era, de fato, uma casa muito engraçada aquela onde coexistiram mais artistas por metro quadrado do que emo em liquidação da chapinha de cabelo. O endereço de verdade ficava na Rua Lauro Muller, no.116, em Botafogo, no terreno que hoje abriga o Rio Sul, primogênito dos shoppings cariocas. Por lá iam e vinham Paulo Coelho, Gal Costa, Paulinho da Viola, Tim Maia e tantos – praticamente todo mundo que apitou sua arte naqueles primeiros e chumbados anos de ditadura. Também havia alguns remanescentes da primeira geração de inquilinos, como senhorinhas e dois travestis que mantinham salão de cabeleireiro na entrada.
Amigo do poeta Paulo Leminski, outro a manter um cantinho na construção de estilo colonial, o jornalista Toninho Vaz mapeou no livro Solar da Fossa, a República dos Magros a historia desses moradores, fixos ou itinerantes, dos 85 apartamentos – de quitinete a dois quartos com banheiro coletivos para alguns – da Pensão Santa Teresinha. Por um tempo, o Solar, levantado no século 18 para ser fazenda, funcionou como manicômio para mulheres. Não que a versão sessentista estivesse tão distante desse passado eclético. Espécie de feudo lisérgico, o espaço era “símbolo da loucura das drogas, com muita maconha, ácido e bebida", segundo Vaz.
Os atores Claudio Marzo e Betty Faria se casaram no pátio. Entre as paredes do Solar da Fossa, Caetano Veloso viajou nas espaçonaves e guerrilhas de “Alegria, Alegria”. E, claro, tinha os amigos. Em trecho, Jards Macalé conta sobre a noite em que desvirginou “uma moçoila na cama do Rogério Duarte”, designer das capas de disco da tropicália.
Para o diretor de TV, Roberto Talma, a lei do Solar da Fossa era clara: “Se você não tinha algum conhecimento de arte, um pouco de filosofia ou alguma consistência política, não comia ninguém”. Cabe ao diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, parte da última leva de residentes , em 1970, desmanchar essa atmosfera de república universitária: “Não era ambiente de bagunça. Não lembro de droga pesada, fora fumo e LSD” .
O Solar foi chamado de “ilha da felicidade” num período tão ruim da vida política brasileira. O autor, Toninho Vaz, esclarece que o Solar existiu de 1964 a 1971, quando as portas foram definitivamente lacradas.
* * *
“Nos difíceis dias da ditadura, boa parte das mentes criativas estavam no Solar da Fossa.”
3 comentários:
Legal, Toninho Vaz...quero ler mais...bjk
Estou curioso para saber mais histórias do Solar...
Parabéns, forte abraço.
Sim, a revista comenta, no final da reportagem, o caso juridico com a Record. Esta baixaria. Deixei de fora para evitar a contaminação do ambiente.
Postar um comentário