Silvia Maria e Bia Bedran: as atrizes se encontram em Curitiba.
Aconteceu bem cedo no restaurante do hotel em Curitiba. Quando entrei no salão, logo depois das 7 horas, havia poucas pessoas nas mesas – um casal logo na entrada e duas mulheres mais ao fundo. Servi-me de suco de laranja, salada de frutas, talheres e fui me sentar na mesa mais distante, à esquerda, quase na porta da cozinha. Ato contínuo, percebo uma moça bonita, longilínea, entrar e se dirigir calmamente ao balcão de frutas e sucos. Meu olhar acompanhou. Estava equipada para o calor que fazia, trajando um vestido branco de rendas, com duas alças finas a segurá-lo em ombros desnudos, elegantes e perfeitos. Os cabelos molhados.
Ela foi cautelosa ao escolher as frutas. Levou para o pequeno prato pedaços de mamão e melancia. Pegou os talheres, girou o corpo pra esquerda e veio caminhando em minha direção. Cada vez mais perto...
Ela foi cautelosa ao escolher as frutas. Levou para o pequeno prato pedaços de mamão e melancia. Pegou os talheres, girou o corpo pra esquerda e veio caminhando em minha direção. Cada vez mais perto...
Para minha surpresa, sentou-se na minha mesa, bem na minha frente ficando de costas para o salão praticamente vazio. Confesso que me agitei, virando o corpo para a direita e cruzando as pernas como se estivesse abrindo um jornal, tentando ser o mais natural possível. Tudo acompanhado por um silêncio notável – nem um bom dia foi ouvido. Neste momento um rapaz de aparentes 30 anos aproximou-se e dirigindo-se a moça saudou-a com boas maneiras:
- Bom dia, Silvia.
E virando-se pra mim, de mão estendida e levemente curvado:
- Bom dia, como vai?
E sentou-se ao meu lado direito... Fez alguma consideração sobre o fator climático nas ruas, mas logo silenciou. Tinha nas mãos uma pasta onde se lia UFPR. Foi quando me ocorreu dizer alguma coisa que pudesse me ajudar:
- Até parece que somos do mesmo grupo, não?
Ela explicou que não estavam em grupo. Ela era de Belo Horizonte e estava hospedada no hotel, mas o rapaz morava em Curitiba. Mais uma surpresa. E foi além:
- Nós somos vencedores do concurso nacional Loucos por Diversidade, promovido pelo Ministério da Saúde e pelo MinC.
-??
Diante do meu silêncio, ela continuou:
- Somos portadores de sofrimento mental.
- ??
Silvia Maria, este era o nome dela, explicou que ambos haviam vencido o concurso nacional em suas respectivas áreas: ela no teatro (como atriz) pela peça Caixa Preta e Loriel (este o nome do rapaz) na categoria Literatura com dois livros de poesia: A Arte da Urgência e O Sentido [In]sano. Depois de descobrir que a beleza da moça nascia da sua serenidade interna (!) tive que me conformar com a calma dela ao me advertir:
- Você pode ficar chocado, mas meu diagnóstico é de esquizofrenia. O Loriel é portador de ideologia transversal.
- ??
Fiquei ali boa parte da manhã conversando com os dois anjos que pousaram na minha mesa. Como num lance de dados. Fiz uma foto da Silvia com a Bia Bedran, que ela reconheceu na mesa ao lado. Silvia Maria (do grupo Sapos & Afogados) me pareceu uma ativista da causa que a movia até Curitiba (a UFPR faz parte do projeto) e Loriel, curitibano, sabia muito sobre Paulo Leminski, o poeta do Pilarzinho. Tudo se encaixava... Agora eles se preparam para, no inicio de dezembro, receber o prêmio de fato no Rio de Janeiro.
Difícil de acreditar que ambos, tão afáveis e positivos, tivessem algum tipo de sofrimento mental. Enquanto tem sujeito por aí circulando... bem, vocês sabem...
- Bom dia, Silvia.
E virando-se pra mim, de mão estendida e levemente curvado:
- Bom dia, como vai?
E sentou-se ao meu lado direito... Fez alguma consideração sobre o fator climático nas ruas, mas logo silenciou. Tinha nas mãos uma pasta onde se lia UFPR. Foi quando me ocorreu dizer alguma coisa que pudesse me ajudar:
- Até parece que somos do mesmo grupo, não?
Ela explicou que não estavam em grupo. Ela era de Belo Horizonte e estava hospedada no hotel, mas o rapaz morava em Curitiba. Mais uma surpresa. E foi além:
- Nós somos vencedores do concurso nacional Loucos por Diversidade, promovido pelo Ministério da Saúde e pelo MinC.
-??
Diante do meu silêncio, ela continuou:
- Somos portadores de sofrimento mental.
- ??
Silvia Maria, este era o nome dela, explicou que ambos haviam vencido o concurso nacional em suas respectivas áreas: ela no teatro (como atriz) pela peça Caixa Preta e Loriel (este o nome do rapaz) na categoria Literatura com dois livros de poesia: A Arte da Urgência e O Sentido [In]sano. Depois de descobrir que a beleza da moça nascia da sua serenidade interna (!) tive que me conformar com a calma dela ao me advertir:
- Você pode ficar chocado, mas meu diagnóstico é de esquizofrenia. O Loriel é portador de ideologia transversal.
- ??
Fiquei ali boa parte da manhã conversando com os dois anjos que pousaram na minha mesa. Como num lance de dados. Fiz uma foto da Silvia com a Bia Bedran, que ela reconheceu na mesa ao lado. Silvia Maria (do grupo Sapos & Afogados) me pareceu uma ativista da causa que a movia até Curitiba (a UFPR faz parte do projeto) e Loriel, curitibano, sabia muito sobre Paulo Leminski, o poeta do Pilarzinho. Tudo se encaixava... Agora eles se preparam para, no inicio de dezembro, receber o prêmio de fato no Rio de Janeiro.
Difícil de acreditar que ambos, tão afáveis e positivos, tivessem algum tipo de sofrimento mental. Enquanto tem sujeito por aí circulando... bem, vocês sabem...
Toninho Vaz
4 comentários:
Recebi da amiga Adelia Lopes, jornalista de Curitiba, a seguinte mensagem que chegou por email (para que fosse reproduzida aqui):
"Uma segunda-feira começando com essa louca crônica me emocionou, Toninho. Que trio ternura naquela mesa! E que história surpreendente - que bom que vc a partilhou com a gente. Bjs"
Ei, Toninho. A bela história você já tinha me contado, pessoalmente. Mas o texto ficou bonito, claro e sensível.
Grata.
Isso é uma verdadeira crônica, muito gostosa de ler. Bacana, Toninho!
Beijos e até hoje à noite.
Muito bom, Toninho. Existem várias formas de existir, ser e sentir. Pra que restringir?
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