segunda-feira, 19 de abril de 2010

Portfólio

(texto para o livro "Imprensa Alternativa Brasileira e Contracultura", de Bruno Amorim – 4ª. capa - no prelo - sem título)

Alguém já registrou na memória quantas vezes ouviu dizer que o Brasil é um país sem memória?
Portanto, qualquer contribuição para diminuir o silêncio das bibliotecas será bem vinda, especialmente quando se mostrarem eficientes, destas que nos permitem enxergar a fralda do nosso tecido histórico.

Esta pesquisa de Bruno Amorim tem vários méritos, além do literário. Ao registrar as cenas acontecidas nas correntes do engajamento, em maio de 68, direciona o olhar no sentido oposto, na contracultura dos acontecimentos. E vasculha a literatura pertinente.

Por estas páginas circulam com exatidão os gurus da nova (velha) era, procurando dar um sentido a tudo que nascia: Allen Ginsberg, Marcuse, Wilhen Reich, Thimoty Leary, Aldous Huxley ... Luis Carlos Maciel, Paulo Leminski e Torquato Neto.

O paradigma perfeito.

Toninho Vaz, abril 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Rocks rurais

O colunista Reinaldo Bessa, d´A Gazeta do Povo (Curitiba), onde tive meu primeiro emprego de repórter, publicou uma frase que escrevi quando soube da morte do Ivo, na semana passada. Eu dizia, em outras palavras, que sempre recorri à Tia Marli quando queria ir a Woodstock.
Alguém que eu não conheço, entre os leitores do Bessa, mandou para o jornal esta foto onde aparecemos cantando um rock rural, claro. Eu e o Ivo, dois ursos bebendo nas colinas curitibanas. Saudades.
(fotógrafo ainda não identificado)


Toninho Vaz, de Santa Teresa

sábado, 10 de abril de 2010

Pé na estrada

Ivo nos anos 70. Foto Dico Kremer.


Com o Ivo cantei muitos rocks rurais

Morre em Curitiba o músico Ivo Rodrigues, o Ivo da Chave e da banda Blindagem. Talentoso cantor e guitarrista, meu amigo desde os anos 60, era o cara que me transportava a Woodstock sempre que eu precisava estar lá.

Quando entrei num boteco no balneário de Matinhos, no Paraná, numa noite de verão, pra tomar uma cerveja, ele estava nos fundos, tocando violão e cantando (como se estivesse em Woodstock) Do you wanna dance? de Johnny Rivers. A voz solta e os cabelos compridos chegaram primeiro e fui logo me manifestando na segunda música:

- Bicho, você gosta de tocar o que eu gosto de ouvir.

Ele mandou outras de igual calibre, Beatles, Donovan, Ronnie Cord,... Nos tornamos amigos próximos, com tratamento de compadre, muitas viagens, baseados, sempre a caminho do rio das pedras na estrada para Santa Catarina. Dois casais (as namoradas também eram amigas), duas barracas e o violão.

O Ivo estava começando a se notabilizar como o vocalista d´A Chave, a banda que tinha também o Orlando, o Paulinho, o Eli e o Zito, no contra-baixo, logo substituído pelo Carlão Gaertner. O Ivo e o cenário da Casa Branca, nas Mercês: tudo a ver.

Foram dias certos e criativos e nossas visitas a casa de Paulo Leminski e Alice, nas Mercês e depois no Pilarzinho, eram verdadeiros orgasmos coletivos em torno de música e poesia. Sorte minha por estar sempre ao lado dos dois, ouvindo o Ivo cantar e o Paulo poetar.
(Para aqueles que têm um exemplar da biografia Paulo Leminski, o bandido que sabia latim, existe algum registro destes encontros a partir da página 140).

Mas não está no gibi a visita que o Ivo nos fez à casa da rua Xavier Leal, em Ipanema, no final dos anos 70. Ele ligou antes dizendo que estava a caminho e quando chegou foi logo tirando uma fita cassete do bolso, explicando que era o playback do disco que estava gravando com a banda Blindagem (gravadora Continental), em São Paulo. “Está tudo ensaiado”, ele disse. Sentou-se no chão, à altura das caixas, deu um play no aparelho e começou a cantar. Cantou inspirado o disco inteiro... Foi simplesmente espetacular: Sou legal eu sei, Não posso ver, Marinheiro, todas... Não houve interrupção... Ele se exibiu muito pra Naná, que durante anos lembraria esta cena como um momento mágico e deslumbrante na vida de todos nós. (Eu tive a oportunidade de conversar com o Ivo, tempos depois, sobre este dia e sobre aquela luz.)

Impossível, no calor da despedida, fazer um relato fiel ou mesmo aproximado dos vários talentos do Ivo, como cantor, ator (foi o destaque na versão apresentada no Teatro Guaira para o Rock Horror Show) ou daquilo que vivemos juntos como amigos. Perdi muito da minha inocência hoje.

Toninho Vaz, de Santa Teresa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Memória analógica V

Papo de repórter

Na sequência dos acontecimentos registrados em 1996, em Nova York, uma pausa para a festa de Siomara Tauster (produtora da TV Globo) que reuniu um punhado de heterogêneos na 3ª. Avenida: o Ministro da Cultura, Luis Roberto do Nascimento e Silva, os jornalistas Edney Silvestre e Jorge Pontual.. A chinesa Helen Miu, linda, desfilando como uma princesa oriental pelo salão...
Ao lado do piano, onde a coruja costuma dormir, entabulamos – Léo Gandelmann, Astrud Gilberto e eu – uma conversa oportuna sobre tudo, embalados pelo vinho branco.

Oportuna porque eu tinha acabado de ler a biografia de Stan Getz , o genial saxofonista do jazz samba – um representante de Tio Sam no coração da Bossa Nova. Aproveitei então para saber da Astrud se procedia a versão apresentada no livro de que ela se tornara cantora profissional graças a ele, que espetacularmente a arrebatou dos braços de João Gilberto; e que a explosão aconteceu quando Stan foi informado de que Astrud não iria subir no palco do Carmeggie Hall, na famosa noite da BN. Ela era, até então, considerada apenas uma cantora para os ensaios, um duble de voz. Situação que se transformava em escândalo na visão – a esta altura apaixonada – de Stan Getz – o que logo transformou os dois num casal. Stan seria o produtor do primeiro e mais importante disco na carreira de Astrud, cantando em inglês versões de clássicos como The Girl From Ipanema, Desafinado, Wave.
Ela confirmou a história e forneceu outros detalhes, que não vêm ao caso.
(Nos tempos escassos dos filmes da Kodak, restou apenas este registro analógico da festa.)

Foto de Helen Miu.