terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Evento pela Pedreira Leminski


A platéia no evento que reuniu várias bandas e poetas nas ruínas do Alto São Francisco, domingo, 12 de dezembro de 2010. foto leila pugnaloni.

Na impossibilidade de estar ao lado daqueles que reivindicavam a reabertura imediata da Pedreira Leminski, em Curitiba, compareci com o texto abaixo que foi lido ao microfone pelo poeta Ivan Justen:

"A vida em Curitiba, do ponto de vista lúdico, sempre foi PEDREIRA. No mau sentido. Agora, que a pedreira chega para ser usada no bom sentido, forças intolerantes se manifestam para apagar a nossa alegria e o nosso prazer. Queremos a PEDREIRA funcionando! A todo vapor, mesmo que seja um vapor barato!"


(para quem não conhece a querela: a pedreira foi impugnada judicialmente sob a alegação da vizinhança de que o barulho era ensurdecedor. Agora surgiram medidas saneadoras que devem ser consideradas tecnicamente pelas autoridades municipais.)

toninho vaz

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Oficina em Curitiba: como foi


Juceli, Bruno, Abrahão, Cláudia, Luciene, Leila e Célia, com harmonia.

O grupo era pequeno, mas animado: tinha advogada, dentista, artista, psicóloga..., todas com paixão por literatura, acalentando o projeto de escrever mais e melhor.
Ficamos três dias abordando o assunto, a partir da premissa de que a literatura é a matéria prima da escrita. Passamos o Paideuma de Ezra Pound em dia.... Lembramos os clássicos, a vanguarda e ainda tivemos tempo para exercitar textos de estilos variados: poesia, prosa, nota jornalística, haicai... (fotos de Bruno Hasum).

domingo, 7 de novembro de 2010

Linha de trabalho: o texto

Cartaz e flyer criado por Paulo Brazyl para o evento de Curitiba. Idéia e produção de Leila Pugnaloni, uma artista, à sua maneira, concreta.

sábado, 6 de novembro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cartão postal

Central Park west com as torres verdes do edificio Dakota. Outono de 1998. Foto Toninho Vaz

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Fragmento de Entrevista

... ao poeta Marco Vasques, de Floripa, sobre contracultura no Brasil. 2009.

P – No livro "Paulo Leminski - O bandido que sabia latim" você diz que conheceu Lemisnki "no tempo em que a contracultura era uma postura ideológica e não um produto de consumo". No que resultou aquele movimento de contracultura?

TV – Houve um momento, logo antes da explosão dos meios de comunicação e da modernidade trazida pela automação, que o mundo era uma aldeia. A ingerência do seu vizinho nos rumos da sua vida era para pedir uma chave de fenda emprestada ou uma xícara de sal. Houve um momento em que o pensamento filosófico e autêntico, aquele que orienta as bases das relações, era mais importante do que o resultado de sua venda, em forma de livros ou qualquer outro objeto de arte e cultura. Hoje, resta dúvida sobre quem comanda a ação, se o mercado ou o leitor. (Ou você acha que o jabá instituído nas rádios FMs, por exemplo, para privilegiar determinada música, deve ser visto como normal e saudável, “a tendência do mercado”?) A contracultura, neste contexto, desempenhou um papel importante para a construção deste admirável mundo novo, como diria Huxley. Alguns gurus da nora era, como John Lennon e Timotty Leary, que perceberam o fim do sonho, gritaram antes. Por outro lado, como conseqüência dessa forte ideologia, acreditávamos que seria possível mudar o mundo, torná-lo mais colorido e saudável. A idéia era apagar da memória a herança dura da II Guerra. Depois vem a descoberta frustrante de que uma guerra apenas antecede outra e depois outra, todas em lugares exóticos e fascinantes, repletos de cultura planetária: Vietnan, Iraque, Ruanda, Bósnia. Paquistão... Então voltamos ao começo e reiniciamos a jornada tentando uma façanha ainda maior: mudar a nós mesmos. Ou, como dizia Einstein: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.

P – Por que você diz que a contracultura é produto de consumo?

TV - Não existe alternativa. As agências americanas de publicidade, ainda nos 60´, tiveram a idéia de aproveitar uma manifestação político-musical de jovens cabeludos para chamar atenção para a calça Lee, que a maioria usava. Índigo blue. Então, a liberdade passou a ser uma calça velha, azul e desbotada. Veja o caso do livro Cidade de Deus, feito dentro de uma linha ideológica básica do autor, o Paulo Lins, ele mesmo morador do inferno descrito na história. Tudo certo, mas a história foi encontrar sua caixa de ressonância na versão tecnô do diretor Mirelles, cheia de efeitos e trucagens de laboratório. Neste sentido, eu concordo com a crítica feita por Ruy Guerra, que denunciou uma adulteração na intenção primeira do romance. Apesar disso, ou talvez até por isso, foi um grande sucesso de bilheteria. Por outro lado, o fenômeno Paulo Coelho, o mago, é literatura ou mercado editorial? Como acontecia com Lobsang Rampa, nos 70´, ninguém tem tanta verdade suprema para colocar em 22 volumes.

sábado, 25 de setembro de 2010

por ter feito
muita análise sintática
hoje conheço melhor
o sujeito oculto dentro de mim
os predicados
o significado do verbo principal
o intransitivo
intransigente como a vida
que tudo encerra
numa sentença oblíqua
de um pronome pessoal
do caso reto
que apenas sonha ser
o objeto direto
à sua oração subordinado

(Toninho Vaz)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Um bar de categoria

Na camiseta do Léo a homenagem a um grande maranhense: João do Vale. Foto de Rinaldo.

Ontem fui conhecer o bar do Léo, tradicional em São Luis, onde encontrei um ambiente acolhedor, trash (na decoração, tralhas e landruás) e um peixe frito de primeira. Cerveja sempre gelada e uma freguesia de respeito. Som de boa qualidade com caixas também nos banheiros. Nas paredes, uma galeria com centenas de CDs e vinis... objetos. A cultura maranhense em primeiro lugar. Adorei.

Toninho Vaz, de São Luis

domingo, 19 de setembro de 2010

Gogó premiado

Humberto do Maracanã faz registro de voz e poesia. Foto de Franck.


Conheci em São Luis o cantador mais prestigiado dos bois do Maranhão, o popular Humberto do Maracanã, cujo timbre de voz e poesia ingênua estão à altura dos grandes poetas do gênero – como Quintana, Cartola e Nelson Cavaquinho. Ele tem um canto perfumado e sua poesia exala inspiração. Por uma tradição secular e familiar é dele hoje o Boi do Maracanã (que já foi do seu avô e do seu pai), referência a um bairro desta cidade fundada pelos franceses e berço de Sousândrade e Odilo Costa, filho (mas, também, de Ferreira Gullar e Arthur Azevedo).
Humberto do Maracanã guarda certa semelhança física e espiritual com o paraibano Jackson do Pandeiro, ainda que os ritmos sejam diferentes – mas a manha é a mesma. O Boi do Maracanã já se apresentou no Rio, na festa da Diversidade, na Lapa. É um grupo com tradição estatutária e honestidade nos propósitos.
O boi - assim chamado pelos maranhenses - pode ser comparado a uma Escola de Samba, inclusive naquilo que representa para a vida de uma comunidade. Também chamado de batalhão.Vem de Bumba-meu-boi (com hífem). A festa maior dos bois acontece em junho, no dia de São João.
Poesia musicada dedicada à rosa híbrida, a mais resistente de todas, na voz de diamante do Humberto:


“Estrada linda
Que beleza
Arborizada pela natureza


(repete)

Este canto cheio de prosa
Encanta meu batalhão
Canta o cravo e canta a rosa
Que perfuma o Maranhão
Rosa híbrida não murcha
Porque é irrigada
Pelo Senhor São João”

Toninho Vaz, de São Luis do Maranhão

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Paulo Moura - um dia em Manhattan

Paulo Moura e Halina namoram em frente à Carnegie Deli, NY, 1997. Foto Toninho Vaz.

Conheci o casal quando o destino me colocou como um dos quatro convidados para uma apresentação do Paulo com o pianista Cliff Korman, às 11 horas da matina, em NY. A audição, solicitada por dois empresários americanos, aconteceu na sala de pianos da Yamaha. A empresa colocou à disposição do Cliff onze pianos de diferentes modelos. O Paulo tocou sax e clarinete: Pixinguinha, Gershwin, Jobim, Ernesto Nazareth, quase uma hora de show de bola. A quarta convidada era a produtora da TV Globo, Silmara Tauster. Terminada a apresentação, saímos os quatro (sem os empresários) para almoçar num bistrô e derrubar algumas garrafas de vinho. Depois, a pedido do casal, seguimos caminhando em direção à romântica Carnegie Deli, onde voltamos a chamar o garçom de meu louro. No caminho, o Paulo me pediu à exaustão que cantasse uma modinha maliciosa e ingênua ao mesmo tempo (coisa do Pedro Leminski), que ele adorou e que mandei na saída do restaurante:


quando a noite cai sobre a cidade
não vou ficar de novo na saudade
junto uma grana
e vou buscar Maria Joana
junto uma grana e vou buscar Maria Joana
Maria Joana já passou minha paz pra trás
há muito tempo eu não sou o mesmo rapaz.


Grande figura, querido Paulo.

sábado, 12 de junho de 2010

Memória analógica VI

Da série Coisas de Repórter. No remoto ano de 1970, quando ainda existiam os grandes estúdios de Hollywood, abundavam os coquetéis de celebridades de cinema (hoje são da televisão). A Columbia Pictures, representada por seus diretores americanos, foi anfitriã deste encontro do repórter Toninho Vaz, do Diário do Paraná, com Paulo José, o mais popular ator brasileiro da época – graças aos sucessos de Edu Coração de Ouro e Todas as mulheres do mundo. Estavam presentes o diretor Walter Hugo Khoury, a atriz Adriana Prieto (argentina, já falecida) e o ator Jece Valadão. Foi no Country Clube do Rio de Janeiro. (Fotógrafo não identificado)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Wilson Bueno, alguma memória

No palacete do tico-tico, 2006. Foto de João Santana.

O paranaense Wilson Bueno era daquela espécie rara de escritores cuja vaidade e pudor não permitem raciocínios medíocres ou idéias que não sejam originais. A sua narrativa de vida revelava isso. Desde cedo trilhou um caminho de alta informação literária que o aproximou, antes e depois do Solar da Fossa, de gente como Paulo Leminski, Clarice Lispector, Ligia Fagundes, João Antonio, Caio Abreu e Jamil Snege, seus amigos dentro e fora dos livros. O melhor show do Bueno eram as histórias do cotidiano, que ele contava com impagável humor e apurada técnica de saltimbanco. Na redação de O Globo, nos anos 60, esperava Nelson Rodrigues ir ao banheiro para correr até a máquina de escrever do mestre e arrematar a frase ou raciocínio que tivesse sido deixado na lauda... Uma traquinagem. Apesar de conterrâneo, vim conhecê-lo no Rio de Janeiro, em 1974, na casa de um terceiro conterrâneo, o também jornalista Manoel Wambier. Eu chegava ao Rio e o Bueno fazia o caminho inverso, voltava a Curitiba depois de alguns anos de intensa experiência carioca. “Meu passado me condena”, ele dizia. “Mas meu futuro vai me condenar ainda mais”. Criador do jornal NICOLAU, de saudosa memória, Bueno deixou fixado no meio literário um padrão de competência e bom gosto na escolha de temas e autores. Editado pelo Governo do Estado, NICOLAU tinha independência suficiente para revirar o melhor da literatura mundial e apresentar novos valores. Na condição de correspondente carioca e ao redor do mundo, lembro de ter publicado pelo menos meia dúzia de vezes naquelas santíssimas páginas. Uma das minhas colaborações, a entrevista com Paulo Francis em Nova York, tinha deixado o Bueno, na condição de editor, profundamente vaidoso ao me congratular: “Toninho, meu querido, nunca o Francis condenou a nossa audaciosa entrevista – que o Millôr, em sua coluna no JB, saudou como uma das mais sinceras já concedidas por Francis”. O Bueno morreu no domingo último, dia 30, assassinado em sua casa na Vila Tingui – que ele chamava de Palácio do Tico-tico. Nossa última conversa pelo telefone aconteceu na quarta-feira, quando liguei para dizer que estava indo a Curitiba no dia seguinte, para uma semana de trabalho. “Se tiver tempo eu ligo”, avisei. Ele foi definitivo: “Você sabe que eu não saio de casa. Venha até aqui tomar café comigo... Temos muito que conversar”. Toninho Vaz, de Santa Teresa

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Recital no SESI - RJ


Saiu tudo direito na homenagem ao tropicalista Torquato Neto, no projeto Poesia no SESI - RJ. Destaque para o showzaço de Jards Macalé, de improviso. Entrevista de Claufe Rodrigues e participação especial de Mônica Montone, que também fez a segunda foto.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Torquato no SESI - RJ

O tropicalista Torquato Neto é homenageado por Jards Macalé e Toninho Vaz no projeto Poesia no SESI, dia 26, quarta, ao meio dia, com entrada franca. Teatro do Sesi, rua Graça Aranha, 1, centro - RJ - Produção: Mônica Montone e Claufe Rodrigues.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Portfólio

(texto para o livro "Imprensa Alternativa Brasileira e Contracultura", de Bruno Amorim – 4ª. capa - no prelo - sem título)

Alguém já registrou na memória quantas vezes ouviu dizer que o Brasil é um país sem memória?
Portanto, qualquer contribuição para diminuir o silêncio das bibliotecas será bem vinda, especialmente quando se mostrarem eficientes, destas que nos permitem enxergar a fralda do nosso tecido histórico.

Esta pesquisa de Bruno Amorim tem vários méritos, além do literário. Ao registrar as cenas acontecidas nas correntes do engajamento, em maio de 68, direciona o olhar no sentido oposto, na contracultura dos acontecimentos. E vasculha a literatura pertinente.

Por estas páginas circulam com exatidão os gurus da nova (velha) era, procurando dar um sentido a tudo que nascia: Allen Ginsberg, Marcuse, Wilhen Reich, Thimoty Leary, Aldous Huxley ... Luis Carlos Maciel, Paulo Leminski e Torquato Neto.

O paradigma perfeito.

Toninho Vaz, abril 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Rocks rurais

O colunista Reinaldo Bessa, d´A Gazeta do Povo (Curitiba), onde tive meu primeiro emprego de repórter, publicou uma frase que escrevi quando soube da morte do Ivo, na semana passada. Eu dizia, em outras palavras, que sempre recorri à Tia Marli quando queria ir a Woodstock.
Alguém que eu não conheço, entre os leitores do Bessa, mandou para o jornal esta foto onde aparecemos cantando um rock rural, claro. Eu e o Ivo, dois ursos bebendo nas colinas curitibanas. Saudades.
(fotógrafo ainda não identificado)


Toninho Vaz, de Santa Teresa

sábado, 10 de abril de 2010

Pé na estrada

Ivo nos anos 70. Foto Dico Kremer.


Com o Ivo cantei muitos rocks rurais

Morre em Curitiba o músico Ivo Rodrigues, o Ivo da Chave e da banda Blindagem. Talentoso cantor e guitarrista, meu amigo desde os anos 60, era o cara que me transportava a Woodstock sempre que eu precisava estar lá.

Quando entrei num boteco no balneário de Matinhos, no Paraná, numa noite de verão, pra tomar uma cerveja, ele estava nos fundos, tocando violão e cantando (como se estivesse em Woodstock) Do you wanna dance? de Johnny Rivers. A voz solta e os cabelos compridos chegaram primeiro e fui logo me manifestando na segunda música:

- Bicho, você gosta de tocar o que eu gosto de ouvir.

Ele mandou outras de igual calibre, Beatles, Donovan, Ronnie Cord,... Nos tornamos amigos próximos, com tratamento de compadre, muitas viagens, baseados, sempre a caminho do rio das pedras na estrada para Santa Catarina. Dois casais (as namoradas também eram amigas), duas barracas e o violão.

O Ivo estava começando a se notabilizar como o vocalista d´A Chave, a banda que tinha também o Orlando, o Paulinho, o Eli e o Zito, no contra-baixo, logo substituído pelo Carlão Gaertner. O Ivo e o cenário da Casa Branca, nas Mercês: tudo a ver.

Foram dias certos e criativos e nossas visitas a casa de Paulo Leminski e Alice, nas Mercês e depois no Pilarzinho, eram verdadeiros orgasmos coletivos em torno de música e poesia. Sorte minha por estar sempre ao lado dos dois, ouvindo o Ivo cantar e o Paulo poetar.
(Para aqueles que têm um exemplar da biografia Paulo Leminski, o bandido que sabia latim, existe algum registro destes encontros a partir da página 140).

Mas não está no gibi a visita que o Ivo nos fez à casa da rua Xavier Leal, em Ipanema, no final dos anos 70. Ele ligou antes dizendo que estava a caminho e quando chegou foi logo tirando uma fita cassete do bolso, explicando que era o playback do disco que estava gravando com a banda Blindagem (gravadora Continental), em São Paulo. “Está tudo ensaiado”, ele disse. Sentou-se no chão, à altura das caixas, deu um play no aparelho e começou a cantar. Cantou inspirado o disco inteiro... Foi simplesmente espetacular: Sou legal eu sei, Não posso ver, Marinheiro, todas... Não houve interrupção... Ele se exibiu muito pra Naná, que durante anos lembraria esta cena como um momento mágico e deslumbrante na vida de todos nós. (Eu tive a oportunidade de conversar com o Ivo, tempos depois, sobre este dia e sobre aquela luz.)

Impossível, no calor da despedida, fazer um relato fiel ou mesmo aproximado dos vários talentos do Ivo, como cantor, ator (foi o destaque na versão apresentada no Teatro Guaira para o Rock Horror Show) ou daquilo que vivemos juntos como amigos. Perdi muito da minha inocência hoje.

Toninho Vaz, de Santa Teresa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Memória analógica V

Papo de repórter

Na sequência dos acontecimentos registrados em 1996, em Nova York, uma pausa para a festa de Siomara Tauster (produtora da TV Globo) que reuniu um punhado de heterogêneos na 3ª. Avenida: o Ministro da Cultura, Luis Roberto do Nascimento e Silva, os jornalistas Edney Silvestre e Jorge Pontual.. A chinesa Helen Miu, linda, desfilando como uma princesa oriental pelo salão...
Ao lado do piano, onde a coruja costuma dormir, entabulamos – Léo Gandelmann, Astrud Gilberto e eu – uma conversa oportuna sobre tudo, embalados pelo vinho branco.

Oportuna porque eu tinha acabado de ler a biografia de Stan Getz , o genial saxofonista do jazz samba – um representante de Tio Sam no coração da Bossa Nova. Aproveitei então para saber da Astrud se procedia a versão apresentada no livro de que ela se tornara cantora profissional graças a ele, que espetacularmente a arrebatou dos braços de João Gilberto; e que a explosão aconteceu quando Stan foi informado de que Astrud não iria subir no palco do Carmeggie Hall, na famosa noite da BN. Ela era, até então, considerada apenas uma cantora para os ensaios, um duble de voz. Situação que se transformava em escândalo na visão – a esta altura apaixonada – de Stan Getz – o que logo transformou os dois num casal. Stan seria o produtor do primeiro e mais importante disco na carreira de Astrud, cantando em inglês versões de clássicos como The Girl From Ipanema, Desafinado, Wave.
Ela confirmou a história e forneceu outros detalhes, que não vêm ao caso.
(Nos tempos escassos dos filmes da Kodak, restou apenas este registro analógico da festa.)

Foto de Helen Miu.

domingo, 21 de março de 2010

Castro - como foi

Na oficina onde predominavam as professoras das escolas municipais. Foto de Ana Barrios.

Palestra no Teatro Bento Mossurunga. Foto Karina Marques.



Alunos da oficina sobre Leminski. Na primeira fila, os amigos Ana Barrios (fotógrafa), Jaime Lechinski e Leila Pugnaloni, de Curitiba. Foto Karina Marques.



Primeira consideração a respeito da viagem: Castro, a 160 km de Curitiba, é uma cidade mimosa, graciosa, dengosa... Traz na sua história uma saga de etnias múltiplas, formada por holandeses, alemães e italianos... Estava na rota dos tropeiros. Tudo com muita ordem e progresso.


A idéia de agora nasceu da artista plástica Karina Marques (da Secretaria de Cultura) que certo dia acordou predisposta a homenagear a poesia de Paulo Leminski, o Polaco. E pôs-se a trabalhar neste sentido, comprometendo prefeito, secretário, biógrafo, alunos, professoras, amigos...
Tudo aconteceu na semana em que Castro – considerada a cidade mãe do Paraná – comemorava 306 anos de existência. (Enquanto Curitiba ainda era uma comarca de SP, Castro seria a primeira cidade do novo Estado).


O evento foi um sucesso que atraiu até mesmo pessoas (sensíveis) das cidades vizinhas, Ponta Grossa e Carambeí, que compareceram com seus poetas e agentes (informais) de cultura.
De minha parte, fiz uma palestra matinal no histórico Teatro Bento Mossurunga, na praça central, para cerca de cem pessoas interessadas no assunto. Participação especial do ator Ariano na leitura de poemas de P. Leminski.

À tarde, na Oficina que investigava as raízes culturais e literária do poeta do Pilarzinho, havia 43 alunos na sala de aula do antigo colégio Vicente Machado, atual Secretaria de Cultura. Durante três horas fizemos uma devassa no Paideuma leminskiano.


À noite, no restaurante Morro do Cristo, um encontro lúdico em torno dos meus livros e de pratos típicos da região, a culinária do tropeiro.

Ainda tivemos tempo suficiente para conhecer a fabulosa gráfica (na verdade, um museu) de Carlito Kluger, quase artesanal, com eficientes rotativas alemãs das indústrias Heidelberg – algumas do século 18.
Castro, às margens do rio Yapó, nos belos Campos Geraes, foi mais uma raiz descortinada da minha história ancestral. E além.



Toninho Vaz, de volta a Santa Teresa

quinta-feira, 11 de março de 2010

Dois poemas para Castro

(se quiser pode ler mais embaixo os motivos...)

esta cidade
guarda segredos de mim
metade floresta
metade jardim.
perfume floral
na brisa de março
- 306 anos em Castro


--o--

(que os anjos me carreguem)


sacola de nuvens
repleta de astros
flores silvestres
estrelas sucessivas
no luar de Castro

Toninho Vaz

sexta-feira, 5 de março de 2010

Clique para ampliar. Flyer by Paulo Brasil (Presidente Prudente)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Próxima parada: Castro

No dia 17 de março, quarta-feira, estarei na cidade de Castro, no Paraná, fazendo palestra e oficina sobre o poeta Paulo Leminski, tema e personagem do meu livro “O bandido que sabia latim”. Fui convidado a participar do 306º aniversário da cidade – que conheci na minha infância (veja texto abaixo) – oferecendo às professoras da rede pública de ensino (e pessoas sensíveis, em geral), informações necessárias sobre o poeta Paulo Leminski.
À noite do mesmo dia, 17, acontece o lançamento simultâneo de todos os meus livros (5), incluindo a biografia de Torquato Neto, outro poeta reconhecidamente maldito (no bom sentido, é claro!). Vai ser no restaurante Morro do Cristo, onde será servido um típico jantar tropeiro e levantado um brinde em homenagem a Castro, cidade que suscitou essa mini-crônica escrita dias atrás:



EU VOU!

Minhas lembranças de Castro – como aquarelas esmaecidas – são tão remotas quanto a minha infância. Elas foram proporcionadas por duas ou três viagens de trem de Curitiba para Jaguariaiva – saindo no final da tarde da capital e chegando nove horas depois ao destino. Estou falando da década de 1950. Era uma aventura nos vagões da RVPSC.
A parada intermediária, em Castro, era a principal atração da viagem, marcada pelo cenário magnífico e esplendoroso dos Campos Gerais. Através da janela do trem, de maneira lenta e preguiçosa, se descortinava o mais belo de todos os nossos ícones, a araucária.
Depois, adolescente, fiquei conhecendo os prodígios da produção batava de laticínios na região, desenvolvida por uma colonização ordeira, produtiva e refinada que nos chegava à mesa, em Curitiba, como um orgulho do Paraná. (Minha mãe era freguesa semanal do entreposto de vendas da Batavo, na Rua Saldanha Marinho)
Certa vez, aos 18 anos, abstraído em pensamentos na janela de um ônibus, em Curitiba, fui surpreendido pela voz do passageiro ao lado, um senhor de cabelos brancos e compridos que me interpelou carinhosamente:
- Pessoa tão jovem não deveria ter pensamentos tão profundos.
Era o maestro Bento Mossurunga, meu vizinho no Jardim das Américas, a quem, depois de ter sido apresentado nesta circunstância, pude render tributo como uma das personalidades mais desenvolvidas da nossa cultura.
Portanto, voltar agora para comemorar os 306 anos de Castro significa ganhar rara oportunidade de rever a minha história e o povo do meu Paraná. De me emocionar novamente com a paisagem da minha infância, incluindo os cânions de tirar o fôlego e o verde, o verde mais verde que existe... Sim, eu vou!


Toninho Vaz, de Santa Teresa

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Deu na Rolling Stone (nas bancas)

Uma casa engraçada


Zelador da história – Toninho Vaz, o autor do livro sobre a lendária residência carioca.

Livro resgata a história do Solar da Fossa, sede não oficial da arte brasileira. Por Anna Virginia Balloussier

Se já existisse Google Maps nos anos 60, a localização do Solar da Fossa bem que podia cair no número zero da Rua dos Bobos. Como na música de Vinicius de Moraes, era, de fato, uma casa muito engraçada aquela onde coexistiram mais artistas por metro quadrado do que emo em liquidação da chapinha de cabelo. O endereço de verdade ficava na Rua Lauro Muller, no.116, em Botafogo, no terreno que hoje abriga o Rio Sul, primogênito dos shoppings cariocas. Por lá iam e vinham Paulo Coelho, Gal Costa, Paulinho da Viola, Tim Maia e tantos – praticamente todo mundo que apitou sua arte naqueles primeiros e chumbados anos de ditadura. Também havia alguns remanescentes da primeira geração de inquilinos, como senhorinhas e dois travestis que mantinham salão de cabeleireiro na entrada.
Amigo do poeta Paulo Leminski, outro a manter um cantinho na construção de estilo colonial, o jornalista Toninho Vaz mapeou no livro Solar da Fossa, a República dos Magros a historia desses moradores, fixos ou itinerantes, dos 85 apartamentos – de quitinete a dois quartos com banheiro coletivos para alguns – da Pensão Santa Teresinha. Por um tempo, o Solar, levantado no século 18 para ser fazenda, funcionou como manicômio para mulheres. Não que a versão sessentista estivesse tão distante desse passado eclético. Espécie de feudo lisérgico, o espaço era “símbolo da loucura das drogas, com muita maconha, ácido e bebida", segundo Vaz.
Os atores Claudio Marzo e Betty Faria se casaram no pátio. Entre as paredes do Solar da Fossa, Caetano Veloso viajou nas espaçonaves e guerrilhas de “Alegria, Alegria”. E, claro, tinha os amigos. Em trecho, Jards Macalé conta sobre a noite em que desvirginou “uma moçoila na cama do Rogério Duarte”, designer das capas de disco da tropicália.
Para o diretor de TV, Roberto Talma, a lei do Solar da Fossa era clara: “Se você não tinha algum conhecimento de arte, um pouco de filosofia ou alguma consistência política, não comia ninguém”. Cabe ao diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, parte da última leva de residentes , em 1970, desmanchar essa atmosfera de república universitária: “Não era ambiente de bagunça. Não lembro de droga pesada, fora fumo e LSD” .
O Solar foi chamado de “ilha da felicidade” num período tão ruim da vida política brasileira. O autor, Toninho Vaz, esclarece que o Solar existiu de 1964 a 1971, quando as portas foram definitivamente lacradas.
* * *

“Nos difíceis dias da ditadura, boa parte das mentes criativas estavam no Solar da Fossa.”

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Memória analógica IV

Nos três anos em que morei em Nova York, de 1996 a 1998, algumas vezes fui privilegiado ao me aproximar dos ambientes de boa música (saravá, Roberto Muggiati) e de personagens talentosos do show bussiness americano. Mas, nem sempre foram encontros registrados por instrumentos analógicos fotográficos (antes da era digital) como aconteceu na noite em que conheci o saxofonista Lou Marini, integrante original da Blues Brother’s Band – ao lado de Dan Aycroyd e John Beluchi. Lou também era convidado eventual para engrossar o caldo em apresentações de grupos como Blood, Sweat and Tears ou Frank Zappa, com quem tocou em 1977 no álbum Zappa in New York.
Fui apresentado a Lou num bar na rua 58, west, 1997, quando comemorava-se com uma jam (sensacional) o aniversário de um pianista (esqueci o nome), batendo na casa dos 6 ponto 6. Chovia muito lá fora e isso parecia contribuir para o bom clima dentro do bar – motivado pelo aconchego e, de certa forma, pela segurança. Foi mesmo uma carraspana generalizada.

Mesmo não sendo fanático de carteirinha por blues (como o Carlão e o Frejat, que sabem tudo), eu guardava nítido na memória a entrada em cena de Lou no filme original d’Os irmãos cara-de-pau: ele era o chapeiro da lanchonete de Aretha Franklin no momento em que os brothers aparecem para convencê-la a participar do tal show beneficente – tema central do filme. Os dois dispensam os aventais e se incorporam a banda. O resto a gente já sabe: um espetacular show de Ray Charles, Cab Calloway, James Brown e um fabuloso elenco de atores e músicos.

(Merece referência especial o autor da foto: meu amigo Stu Deutsch, natural do Wisconsin e ligado ao cinema como técnico de captação de som ambiente em filmes de Spike Lee, Babenco, Tizuka Yamazaki, José Joffily e Bruno Barreto. Foi ele quem me apresentou ao Lou.).

Toninho Vaz

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Extra! Extra! Solar da Fossa

Foto histórica do casarão colonial, feita pelo Malta na entrada do tunel de Copacabana, onde, décadas depois, seria instalado o lendário Solar da Fossa. Hoje temos ali o shopping Rio Sul.

Amigos, leitores, a quem interessar:

O juiz de Direito, Sérgio de Arruda Fernandes, da 21ª. Vara Cível do Rio de Janeiro julgou procedente a ação judicial que, através de minha advogada, Tânia Borges, impetrei contra a editora Record há um ano exatamente. A ação visava impedir que a Record efetivasse a impressão e distribuição fraudulentas do meu livro “Histórias e canções do Solar da Fossa” (título de contrato e de trabalho). Com a informação confidencial de que a editora estava imprimindo 3 mil exemplares do livro, na calada da noite e à revelia do autor, encaminhei pedido de liminar ao juiz que, em prazo de 48 horas, acatou o apelo. Os livros – impressos de maneira tosca e irresponsável (sem fotos e prefácio)– foram interceptados pelo oficial de justiça quando eram colocados nos caminhões para distribuição nacional.
Um ano se passou.
Em sentença datada do último dia 26 de janeiro, o juiz reconhece que houve quebra de contrato por parte da Record, que negligenciou nos prazos preestabelecidos, permitindo que o mesmo perdesse o seu valor. Assim, o autor, Toninho Vaz, por decisão judicial, deve ser empossado de todos os direitos sobre a obra e, para não prejudicá-lo na tarefa de renegociar o livro com outra editora, a Record deverá mandar publicar – por dois dias intercalados –, em jornal carioca de grande circulação, notícia dando conhecimento público da decisão judicial. Em tamanho 20 x 20 cm. O juiz também condenou a ré aos pagamentos de custas processuais e honorários advocatícios.
Aguarda-se a publicação em Diário Oficial, o que deve acontecer na próxima segunda feira, dia 1º de fevereiro 2010.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Memória analógica III


Esta foto feita no pré-carnaval de 1991, durante reportagem para a TV Globo, serve como registro da volta de Paulinho da Viola à Portela, depois de anos de afastamento – período em que se tornou folião, compositor e ritmista da Tradição.
O cinegrafista José de Arimatéia, trocando por um instante de câmera, mostra o estado maior do samba carioca, a partir da esquerda: José Carlos (produtor de TV), Seu Alberto, Argemiro e Casquinha, da Portela; Paulinho da Viola e a turma da Mangueira: Xangô, Comprido e Darcy do Cavaco; e Dulce (produtora).
São grandes nomes da velha guarda das duas escolas, sendo que a Mangueira era a convidada especial de Paulinho para a gravação do seu comentário semanal. Eu era o editor – um curitibano no reino d’África.
Depois da gravação, que aconteceu na quadra da Portela, fomos para um botequim ao lado da escola, em Madureira, onde o samba seguiu o padrão dos bambas. Na mesa, cerveja e linguicinha no palito – nesta época, ainda com trema.

Toninho Vaz

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Memória analógica II



Eu já era leitor e admirador das crônicas e romances de José Carlos Oliveira quando fui entrevistá-lo em sua casa para a revista Atenção, editada em Curitiba nos anos 70. Chegamos (o fotógrafo Zeka Araújo estava escalado) por volta das 11 horas, como combinado. Era um apartamento típico de solteiro, numa rua interna e tranqüila do Leblon, próximo ao quartel do Exército e sem nenhum sinal de trânsito ou buzinas... Mas o nosso entrevistado ainda estava acordando, cheio de ressaca, a deduzir pela sua exclamação inicial: “Parece que um caminhão de uísque passou sobre a minha cabeça!”. O mais interessante cronista do Jornal do Brasil, capixaba, parecia um carioca da zona sul.
Depois de gravar a primeira parte da conversa na sala do apartamento, abordando origens e lembranças do Espírito Santo, até a chegada ao Rio, decidimos continuar as reminiscências numa mesa de bar. E seguimos para o tradicional Degrau, na Ataulfo de Paiva. Carlinhos pediu um uísque e eu fui de chopinho com mini pasteis (uma especialidade da casa). Ele apenas bebeu.
Carlinhos Oliveira faleceu em 1986 – portanto, quase dez anos depois – em decorrência de problemas com o alcoolismo. Suas últimas crônicas escritas durante o doloroso tratamento, em Paris, ainda estão na minha memória. Aliás, Carlinhos Oliveira não me sai da memória.
Toninho Vaz

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Memória analógica I

Meus dois encontros com Pat Matheney aconteceram no Leblon durante a Guerra do Golfo, inicio dos anos 90. Preocupado com a (des) ordem mundial e com a onda de atentados terroristas a alvos norte-americanos, o guitarrista decidiu refugiar-se no Rio, aceitando gentil convite de amiga brasileira. No dia seguinte ao primeiro encontro, registrado pelo fotógrafo José Roberto Serra, fizemos um lanche no Gordon (ele pediu um milk shake), na pequena praça - hoje praça Cazuza. Nas duas conversas falamos de generalidades que renderam uma pequena reportagem chamada Yes, nós temos Matheney, na revista de domingo do Jornal do Brasil. Amigo pessoal do percussionista Marçalzinho, que tocava em sua banda, tornou-se fã da escola de samba Vila Isabel.
(No resto do tempo pela cidade, Pat era visto circulando entre as mesas do Mistura Fina, Jazzmania e People.) Uma temporada que durou três meses.


sábado, 2 de janeiro de 2010

Prefácio

O primeiro trabalho do ano: texto de apresentação do livro de Pablo Treuffar – jovem poeta carioca. Está no prelo.



Dentro de Pablo Treuffar existe um espírito indômito, irreverente e irônico a gritar conceitos e impropérios através de versos livres (de métrica, inclusive) que nos chegam como flagrantes do cotidiano e das emoções do autor. Isso de escrever sem apoio das delongas Pablo Treuffar aprendeu com os mestres que orientam suas leituras – Rubem Fonseca e John Fante, por exemplo.
Sem pressa, mas com alguma urgência, o jovem poeta faz uso do pensamento/discurso na primeira pessoa para oferecer fúria e revolta sempre contundentes. A indignação em primeiro lugar. Os versos de Pablo Treuffar são – não de forma unilateral, pois existem outros atributos – revigorantes de uma energia perdida pelo leitor num passado recente.

Toninho Vaz
(prefácio de A doença é a desculpa do caráter, livro de poemas de P. Treuffar)