A paisagem vista do quarto principal, ao centro do semicírculo: Naná e Carol relaxam. foto toninho vaz.
No domingo da moqueca Darcy, Tizuka e Naná. Carol tenta alcançar a cena. foto toninho vaz
Com Darcy na casa de Maricá. foto de Carol aos 9 anos.
para o acervo Niemeyer
para o acervo Niemeyer
Aconteceu dois anos seguidos, acho que 1989 e 90. Naná e eu juntamos as crianças e o cachorro e fomos passar um mês na casa de praia de Darcy Ribeiro, em Maricá. Em pleno verão. Ele preveniu: “Deixei separados na adega os vinhos que você PODE beber. Os outros são sagrados”. Ficou combinado que ele apareceria num final de semana para um almoço típico praieiro. (E isso aconteceu num domingo, quando ele apareceu com Tikuka Yamazaki para aproveitar a moqueca.)
Afinal, estávamos em frente ao mar, numa pequena e maravilhosa casa concebida pelo gênio de Oscar Niemeyer, que desenhou uma oca cortada ao meio e voltada para o mar, projeto redondo como a piscina que completava o círculo da construção. Em cada extremidade do semicírculo, uma entrada ampla de ventilação, formando um corredor até atingir o outro extremo, onde estava a cozinha, passando por dois quartos e uma sala. Toda branca, caiada. (Veja no desenho tosco que acabei de fazer com o mouse).
Afinal, estávamos em frente ao mar, numa pequena e maravilhosa casa concebida pelo gênio de Oscar Niemeyer, que desenhou uma oca cortada ao meio e voltada para o mar, projeto redondo como a piscina que completava o círculo da construção. Em cada extremidade do semicírculo, uma entrada ampla de ventilação, formando um corredor até atingir o outro extremo, onde estava a cozinha, passando por dois quartos e uma sala. Toda branca, caiada. (Veja no desenho tosco que acabei de fazer com o mouse).
Durante o dia, calor de rachar, à noite uma coberta para se proteger do frio provocado pela ventilação natural. Se o vento estava incomodando, bastava fechar uma porta como se fosse uma eclusa. A mesa de refeições ficava no lado de fora, ligada com a cozinha por uma janelinha na parede. Coisa de gênio.
Pois bem, a foto que ilustra esta crônica foi feita num domingo, logo após uma moqueca que preparei com gosto para o Darcy, na qual derrubamos três garrafas de vinho e fizemos um recital de poesia.
Ele se preparava para ir a Curitiba lançar o livro Confissões, sua autobiografia, e fez a convocatória olhando para mim: “Você, jornalista curitibano, vai na frente preparar a minha chegada. Vamos tentar criar uma agenda de encontros com a imprensa”.
E assim foi. Uma semana depois deste domingo, eu seguia para Curitiba, onde fizemos uma bela festa na enorme livraria Ghignone que existia na Praça Osório. Quando chegou ao mezanino, no alto da escada, Darcy falou para o atento José Ghignone, o livreiro, quase em clima de conspiração, olhando uma pequena multidão logo embaixo: “Lugar bom para se fazer um discurso”.
E Darcy falava para quem queria ouvir: “As elites brasileiras são cruéis, elas asfixiam as massas mantendo-as na escuridão da ignorância. As escolas não cumprem com o papel de educar e preparar os meninos do Brasil. Só vamos acabar com a violência quando resolvermos a questão da Educação”.
Parece que foi ontem.
Isto tudo para dizer que a casa, que nunca foi considerada parte do acervo do Niemeyer, está se acabando à beira mar, abandonada e sem manutenção. Uma jóia.
Toninho Vaz
Pois bem, a foto que ilustra esta crônica foi feita num domingo, logo após uma moqueca que preparei com gosto para o Darcy, na qual derrubamos três garrafas de vinho e fizemos um recital de poesia.
Ele se preparava para ir a Curitiba lançar o livro Confissões, sua autobiografia, e fez a convocatória olhando para mim: “Você, jornalista curitibano, vai na frente preparar a minha chegada. Vamos tentar criar uma agenda de encontros com a imprensa”.
E assim foi. Uma semana depois deste domingo, eu seguia para Curitiba, onde fizemos uma bela festa na enorme livraria Ghignone que existia na Praça Osório. Quando chegou ao mezanino, no alto da escada, Darcy falou para o atento José Ghignone, o livreiro, quase em clima de conspiração, olhando uma pequena multidão logo embaixo: “Lugar bom para se fazer um discurso”.
E Darcy falava para quem queria ouvir: “As elites brasileiras são cruéis, elas asfixiam as massas mantendo-as na escuridão da ignorância. As escolas não cumprem com o papel de educar e preparar os meninos do Brasil. Só vamos acabar com a violência quando resolvermos a questão da Educação”.
Parece que foi ontem.
Isto tudo para dizer que a casa, que nunca foi considerada parte do acervo do Niemeyer, está se acabando à beira mar, abandonada e sem manutenção. Uma jóia.
Toninho Vaz
13 comentários:
Abraço, Toninho..
grandes figuras, grande texto, grande amigo.
abração, Toninho.
vini
Um beijo e saudades, Toninho, mtas. saudades de vcs.
Dalva
Leila, Vini e Dalva, que bom receber a visita de voces... Sempre alerta!
bjs
Alguém reclama que nessa história está faltando a foto da casa. Bem, vou tentar encontrar em gavetas cheias de coisas antigas, milhares. Se achar, volto para completar. Mas, como eu já disse, nada explica melhor a casa do que o desenho tosco que fiz para ilustrar.
Na linguagem dos jovens, meu comentário é "não é pra quem quer, é pra quem pode!!!!!!" O mundo sente falta de Darcy, nós aqui da família tbm...
A repórter Mariana Filgueiras fez contato telefônico para dizer que estava trabalhando numa reportagem para a revista de domingo de O Globo. Contou que o telhado da casa tinha desabado no final do ano passado, etc... Eu fui atrás de mais fotos e consegui novas quatro. Uma delas, editei aqui mesmo, mostrando a Carol na piscina redonda.
Eu sou testemunha ocular desta história(com agá mesmo),pois fazer
parte da vida do mestre Darcy(modéstia parte) é História. No outro dia vimos até disco voador(ninguém estava bebado),quatro pessoas assistiram
um negócio muito estranho naquela praia de Maricá.Lembro que depois procuramos quem mais tivesse visto
tal fenomeno e apenas nós tivemos o privilégio do fato. Particularmente acho que o professor é que nos trouxe isto(vieram na sua cauda já que Darcy Ribeiro era um cometa).
Afinal, saiu a matéria na revista d´O Globo, hoje, domingo, 13. Com fotos da casa em frangalhos...
Sócio (José), a história do objeto não identificado continua povoando a minha cabeça...rs
Toninho, moro na esquina da rua onde fica a casa. Este descaso já acontece a muito tempo pela prefeitura, que sempre se esquiva de suas responsabilidades, não somente com a cidade, mas com a cultura em geral, a tal ponto que as crianças daqui não sabem quem foi Darcy Ribeiro e nem sabem o que é e o que foi Maricá, na história de nosso País. A preocupação da Prefeitura é a construção de mais uma praça no centro da Cidade. E fica a pergunta que fiz várias vezes: "Porque a PREFEITURA DE MARICÁ, não pôde reformar a casa que foi cedida pela Família de Darcy Ribeiro?" A resposta é simples... porque não era prioridade, nada que não tenha um retorno para sua escalada política, não vale a pena. E hoje me surpreendi ao sair de casa para levar meus cães na praia, me deparo com uma placa, ou melhor, quase um outdoor da Prefeitura, informando que agora o processo de desapropriação foi completado, a Casa pertence ao povo de Maricá. E começaram a reforma... justamente após a matéria do dia 13 de Fevereiro da Mariana Filgueiras do O Globo. Me sinto envergonhado pela Prefeitura, de não ter podido fazer mais, de ter esperado muito alguém fazer algo, enfim é mais um desabafo de quem acompanha todo o processo de desinformação que passa não só a Cidade de Maricá, mas todo o Brasil, o que é totalmente o contrário que Darcy Ribeiro tentou nos proporcionar com sua ideologia, de nos fazer crescer culturalmente. Um grande abraço!
Hey, amigo. Hj saiu uma reportagem no Estadão sobre a casa. O estranho é que eles publicaram o seu desenho dando a entender que ele é o projeto original do próprio arquiteto para a casa!! Estranho!! Abraços
Eu vi, Bravo, e somente posso pensar que foi um equívoco da reportagem, pois neste blog eu digo que fiz o desenho com o mouse. Alguém que devia, não leu.
abç
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