(foto Vinicius Alves)
Entrevista a Cristiano Martinez - Diário de Guarapuava
(publicada em 23/03/2013)
(publicada em 23/03/2013)
1.
Vamos falar da nova edição de “Paulo Leminski: o bandido que sabia
latim”, que será lançada em breve pela editora Nossa Cultura. O que esse livro
tem de diferente da edição original? Serão incluídas novas fotos, texto atualizado,
informações inéditas etc.? Quando será o lançamento? Conte um pouco do projeto.
TV – Sim, o livro ganha uma nova capa, algumas fotos inéditas e mantém
outras consideradas importantes das edições anteriores. O texto foi atualizado
e aparecem algumas informações inéditas, sem nenhuma deformação do texto
inicial, que sempre me agradou (e pelo que eu posso ver, aos leitores também).
A editora Nossa Cultura planeja lançar o livro junto com a biografia de
Torquato Neto, também de minha autoria, no que gostamos de chamar informalmente
de “micro antologia poética dos malditos” – maldito aqui tem conotação
literária, romântica, e não bíblica. Lançamento previsto para meados deste ano.
2.
Toninho, já se passaram mais de 10 anos do lançamento da biografia
escrita por você sobre o Leminski. Como você avalia esse trabalho na sua
carreira? Qual é a relação que você tem com esse livro, já que tem ali o
“Toninho jornalista/escritor” e o “Toninho amigo do Leminski”?
TV – O convite veio de Alice Ruiz, mas, naquilo que parecia meu caminho
natural depois do jornalismo, ou seja, escrever livros, a biografia de Paulo
Leminski foi determinante. Tive a sorte de começar com o pé direito no mercado
editorial, com um livro bem sucedido do ponto de vista da crítica e comercialmente,
pois está saindo agora a 4ª. edição. Minha relação, portanto, é de carinho e
cuidados com a obra. O Paulo Leminski merece. Depois escrevi mais cinco outras
biografias, incluindo as do Torquato, da Santa Edwiges, do homem de cinema
Severiano Ribeiro e do Solar da Fossa, além da biografia parlamentar de Darcy
Ribeiro.
3.
Seu livro teve três edições e alcançou grande repercussão,
constituindo-se numa referência para quem quer conhecer um pouco da vida do
Leminski. Quando você se propôs a tal empreitada, esperava tudo isso?
TV – Não esperava nada, apenas tentei dominar o trabalho, que desde o
início me pareceu um desafio de responsabilidade, pois o Paulo estava
predestinado a ser um dos grandes nomes da nossa cultura. Disso eu sabia.
Portanto, tentei fazer algo que merecesse o prestigio dele como poeta e
intelectual e a grandeza da nossa amizade.
4.
No texto de apresentação da primeira edição, datado de abril de 2000,
você termina dizendo que o objetivo do livro era o “retrato de um poeta
brasileiro sem disfarces, o ex-estranho Paulo Leminski”. Optar por esse caminho
de uma imagem desnudada de Leminski trouxe algum tipo de consequência? Em
muitos momentos, seu livro é de uma sinceridade desconcertante (no sentido
positivo). Enfim, foi difícil dar cabo dessa empreitada, já que você revelou
muito da intimidade do biografado?
TV – A consequência da minha sinceridade, como diz você, foi o desenlace
de algumas amizades, que se perderam nesse trajeto. O livro acabou provocando
reações passionais. Afinal, nas duas grandes exposições que se fizeram sobre a
vida e a obra do poeta, a Ocupação do Banco Itaú, em SP (2009), e a do MON, em
Curitiba (2012), o meu livro ficou de fora, tratado como algo que não tem
importância ou nunca existiu neste contexto. Claro, eu considero uma falha
técnica das curadorias, pois o meu livro além de ser a única biografia dele –
tem a aceitação dos leitores, que me solicitam frequentemente para palestras e
oficinas sobre o assunto. E, não custa nada repetir, está seguindo para a 4ª.
edição.
5.
Nesse tempo todo de publicação da primeira edição, mudou algo em relação
ao trabalho de Leminski? Hoje a crítica olha com mais cuidado a poesia
praticada por ele e, principalmente, o “Catatau”?
TV – Sim, o prestigio e o entendimento da obra de Paulo Leminski se
solidificou ao longo dos últimos anos. Enquanto escrevo, em meados de março,
recebo a informação de que Toda Poesia, antologia recém-lançada, está liderando
a lista dos mais vendidos no país. Faz sentido. Mas o Catatau ainda vai
permanecer na lista dos mistérios por algum tempo.
6.
A reunião de toda a produção poética do Leminski num único livro (“Toda
Poesia”, pela Companhia das Letras) é apenas uma efeméride ou tem um peso maior
(no sentido de provocar novas leituras de sua obra)?
TV – O lançamento de Toda Poesia é muito importante, desde que as obras
do poeta estavam fragmentadas e há muitos anos longe das livrarias. Havia uma
demanda muito grande entre seus admiradores. A crítica também queria ver a obra
reunida. Agora, a lacuna foi preenchida.
7.
Leminski é o grande poeta da contemporaneidade? Como você vê a
influência dele nas gerações posteriores? A visão de mundo dele faz muita
falta?
TV – A facilidade com
que a poesia do Leminski chega até os jovens é impressionante. Houve uma época
em que alguns concursos literários proibiam aos participantes apresentarem
poemas com a dicção típica de sua poesia, pois eram muitos seus seguidores.
Leminski era erudito e pop ao mesmo tempo, por isso fazia uma poesia jovem. Mas
ele sempre foi um intelectual muito sério e aplicado. Estudou e leu muito e,
portanto, merece agora o reconhecimento.
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